29 de mai. de 2008

França se rende ao Novo Mundo


Depois de muito desprezar o apetite internacional por vinhos vulgares, a França decidiu permitir que os produtores passem a produzir vinhos frutados, à moda do Novo Mundo.

Chips e outras técnicas estrangeiras serão toleradas em uma nova categoria de vinhos de qualidade média que será identificada pela casta em lugar da origem.

Embora uma heresia para os tradicionalistas, isso significa, por exemplo, que a Gewurztraminer, a clássica uva da Alsácia, poderá ser cultivada em qualquer lugar da França e ser comercializada como a nova categoria Vinho da França.

Pela nova lei, o rótulo da garrafa identificará o vinho como Merlot, Cabernet, Grenache ou outra variedade, assim como a safra.

O presidente Sarkozy e seu gabinete aprovaram as medidas como parte de um plano quinqüenal destinado a recuperar o mercado perdido para os vinhos do Novo Mundo. Com sua classificação antiquada e a mística do terroir, a França perdeu mercado nos últimos 15 anos, enquanto o consumo mundial crescia.

O Novo Mundo conquistou adeptos com aquilo que os franceses desprezam como vinhos simples, padronizados, frutados e com marcas comerciais. Compradores de supermercados preferem rótulos com marsupiais australianos àqueles com Appellation d'origine contrôlée de pequenos e obscuros vilarejos com nomes de seis sílabas. "O vinho francês é complicado e poucas vezes compreendido.", diz o Ministério da Agricultura.

Embora o novo esquema possa ofender os puristas, as reações até agora não foram tão redicais. "Eu confio no savoir faire dos produtores franceses. Nós não desceremos tanto quando os americanos, que fazem vinhos rosés açucarados e frisantes como um refrigerante." diz o sommelier do Hotel Ritz em Paris.

Atualmente, a França, ex-referência mundial em vinhos, exporta menos garrafas do que a Itália e a Espanha. Foi batida pela Austrália, no mercado britânico, há 3 anos. No entanto, graças aos produtos de alta qualidade de Champagne, Bordeaux e Borgonha, os franceses ainda lideram o mercado em termos de valor, com 35% das vendas, contra 25% do Novo Mundo. Mas a briga agora será pelos novos consumidores da Índia e da China.

A indústria francesa, em geral, aprovou as novas medidas, que foram criadas e aperfeiçoadas nos dois últimos anos.

Os produtores insistem que o novo sistema visa desenvolver os vinhos mais simples, preservando as antigas restrições de qualidade dos vinhos AOC.

6 comentários:

Unknown disse...

Será que isso é, de fato, uma vitória?
Até a França entrou nessa...

Oscar Daudt disse...

Cláudia,

O que pode ser mais chato do que você beber um vinho AOC Pacherenc-du vic-bilh (existe mesmo, não é invenção minha...) e não ter a menor idéia do que seja!!!

Oscar

Anônimo disse...

Caríssimo Oscar,

Esta "matéria" está há 1 ano no mínimo defasada.Um dos nossos carros-chefe,o vinho Malbec de France, foi especialmente elaborado especialmente para o mercado brasileiro e para o chines.Ele não é comercializado na França e nem tampouco no Velho Mundo.

Anônimo disse...

Cláudia,

nao se trata de ser VITÓRIA ou nao, o importante é entender de que trabalho dos produtores e das Vinícolas, assim como dos países produtores é de detectar o que o nosso REI quer.... e ele é o CONSUMIDOR como em qualquer outro produto ou setor...
Os melhores vinhos mais do que as pontuaçoes do Robert Parker e outros sao aqueles que nos dao prazer.... mesmo que possam ser ROSÉS e até SUAVES... o importante é entender isso e se o fizermos o consumo de vinho nao vai parar mais de crecer... e isso que realmente importa pela saúde das pessoas e das que trabalham com eles ao redor do planeta...
Abraços,


Ignacio Carrau

Anônimo disse...

Prezado Oscar / Cláudia

Se é vitória ou não, não afirmo.
Mas o que posso afirmar é que começa um processo de desmitificação do vinho francês em geral.
Muitos produtores, fazem do nome "França" motivo para vinhos insosos que se vendem pelo rótulo, tirando a chance de outros, mais emepenhados em não só agradar, mais encantar o consumidor.

Vamos ver o que vem por aí.." Quem beber....verá"

Saúde !
Nei Augusto Ribeiro

Anônimo disse...

Prezado Oscar,

Com todo o respeito, mas dizer que a frança é uma "ex-referência" no mundo dos vinhos e mais do que heresia.

Também me decepcionou a frase "com sua classificação antiguada e a mística do terroir"...Ora, a "mística do terroir" nada mais é do que o mais importante no vinho.

E, por favor, Sarkozy é o rei da desregulamentação e está preocupado em entupir o mundo de produtos franceses, mesmo que sejam os piores possíveis.

Até porque sabe que os franceses continuarão, por seus métodos "antiquados" escolhendo corretamente o que consumirão.

E nós, bobalhões, continuaremos pagando fortunas pou um bom bourgogne ou bordeaux, às vezes 30 vezes o preço de custo, ou bebendo porcarias de prateleiras dos supermercados da vida, a um preço acessível, simplesmente porque é um "vinho da frança".

Vive la france e santé!

Um abraço,

André H.